Nossos rios, nossa vida

por Luiz Felipe Guanaes Rego

A cidade do Rio de Janeiro, produto direto da história geológica, se mostra diante do Oceano Atlântico com dois conjuntos de montanhas: os Maciços da Pedra Branca e da Tijuca. A cidade se espalha nas planícies que cercam as montanhas centrais recobertas por densa floresta atlântica.

As montanhas conversam com o clima e param as nuvens carregadas do oceano que se transformam em chuvas que irrigam a vida colina abaixo. A floresta absorve a enorme energia vinda das águas e encaminha essas águas de forma suave até o lençol freático que, como uma grande caixa de água, nutre os rios que se distribuem de forma radial por todo o maciço durante o ano. Sem florestas, as águas das chuvas escorrem com força e inundam as planícies, os rios se vão e secam.

Nossa cidade, um presente da natureza, tem uma espécie de grande telhado verde que nos protege da força das águas e, ao mesmo tempo, a armazena e a distribui pelos rios da cidade de forma perene. Momento oportuno para essas lembranças, hoje por descuido, esses rios limpos que nascem nas montanhas vão se sujando pelo mal trato e, poluídos, se perdem.

Como precisamos fazer a transposição das águas do Paraíba do Sul para o rio Guandu para garantir o abastecimento da metrópole Rio de Janeiro, nos esquecemos da força das pequenas ações tanto no uso mais eficiente da cara água tratada pelo sistema Guandu, como pelo uso criativo dos telhados da cidade absorvendo e produzindo energia e armazenando água.

Ampliando um pouco a ação, podemos chegar aos nossos rios que nascem nas montanhas, eles são locais, muito próximos. Assumamos sua importância e busquemos sua limpeza. Bairros têm seus rios, bairros podem adotá-los, e no trato do lixo e na recuperação das matas ciliares a vida se refaz.

Os rios são reflexos de tudo que ocorre na bacia hidrográfica, sem consenso o rio não limpa. Forte estímulo ao coletivo saudável que a todos pode unir. Nossa bela cidade pode ter suas montanhas verdes descendo pelas planícies, protegendo os rios através de faixas florestais onde se vê água limpa. Trabalho e orgulho coletivo.

*é Diretor do Nima – Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio.

Artigo publicado na Folha do Jardim de Novembro/2014

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