Mobilização popular e espaços públicos

por Nina Braga

Em meio a um período no qual muitos cariocas se perguntam se vale a pena continuar a viver em uma cidade na qual quotidianamente atos de barbárie são perpetrados contra inocentes, opto por acalentar nossos ânimos, recordando exemplos de práticas positivas de cidadania que fizeram – e fazem – diferença.

O Parque do Martelo, no Humaitá, é um marco. Graças à mobilização popular, hoje qualquer cidadão pode desfrutar deste lugar encantador, onde tudo está impecável: horta comunitária, brinquedos, sede do parque, jardins, etc. Foi uma luta extensa. Começou na década de 50/60, quando uma pequena favela foi removida. Depois, a área foi ocupada por uma oficina mecânica e, na sequência, uma grande construtora adquiriu o terreno de 16 mil m² para erguer um conjunto de prédios com 200 apartamentos. Mas os moradores do bairro iniciaram uma cruzada para impedir que estes planos se concretizassem: fizeram passeatas, abaixo-assinados, panelaços, convocaram artistas e moveram uma ação popular. Após cinco anos de batalhas, a construtora teve de se afastar. A área voltou para a Prefeitura e seria mais um espaço público abandonado se os vizinhos não tivessem se mobilizado novamente, já organizados como Associação de Moradores do Alto Humaitá, para obter a concessão mediante o compromisso de zelar pelo local. Dez anos se passaram e os resultados são os descritos acima.

Outro exemplo digno de nota é o da recuperação da vegetação de restinga de algumas das praias do Rio, um projeto do Instituto-E, desenvolvido através de parceria público-privada. Houve uma vez em que foliões/vândalos de um bloco carnavalesco pisotearam sem dó os canteiros. Assim que souberam, muitos moradores e integrantes de outros blocos se organizaram em um mutirão de replantio. E, as consequências deste exercício de cidadania são as que vemos agora, quando milhares de pessoas desfrutam de praias com áreas verdes.

Concluo então que, apesar dos contratempos, vale a pena realizar nossos sonhos por meio de boas práticas.

*é diretora do Instituto-E.

Artigo publicado na Folha do Jardim de Junho/2015

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