O tempo não para

por Katia Leite Mansur

Na edição passada o economista Sergio Besserman tratou do Tempo Profundo, termo criado por James Hutton no final do século 18, para representar a dimensão do tempo da natureza. Procurei dar sequência ao tema, avaliando a relação desenvolvimento sustentável e recursos geológicos.

Vamos considerar os principais depósitos de ferro do mundo e do Brasil, onde o Quadrilátero Ferrífero e Carajás nos colocam como segundo maior produtor e detentor da segunda posição nas reservas mundiais.

Todas estas jazidas foram formadas entre 3,8 e 1,9 bilhão de anos pela ação de micro-organismos que viviam em mares rasos, sem oxigênio dissolvido na água. Ao fazerem fotossíntese, com produção de oxigênio, levaram à precipitação do ferro que era produzido nos vulcões subaquáticos da época. Esta é a origem dessas jazidas: vida produzindo rocha.

Mas, com tanto oxigênio, os organismos fotossintéticos também provocaram a mudança de nossa atmosfera, de redutora para oxidante, criando condições para formação da camada de ozônio que, posteriormente, possibilitou a proteção necessária para a saída da vida dos mares para terra firme.

Estas condições ambientais em grande escala não existem mais no Planeta Terra de hoje e grandes jazidas de ferro, como as citadas, não estão sendo formadas. Pois bem, vamos usar o conceito do relatório Brundtland, de 1987, onde desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas necessidades e aspirações. Fica claro que não existe sustentabilidade no uso de um recurso cuja formação ultrapassa em muito a medida das gerações e pode nem ser repetida. Precisamos, sim, ser responsáveis: diminuir consumo e reciclar, reciclar e reciclar.

*é geóloga.

Artigo publicado na Folha do Jardim de Julho/2014

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